domingo, 6 de novembro de 2011

Avaliações externas na educação. Por que boicotei o ENADE?

Hoje é o dia de ENADE.
Me fez lembrar quando eu passei por isso, lá perto dos anos 2000 (não me lembro bem a data). Para piorar a minha situação, eu não recebi a carta de convocação a tempo e não fiz a prova. Expliquei ao INEP o ocorrido, mas a minha solicitação foi INDEFERIDA. Isso significou a retenção do meu diploma de graduação até a realização da próxima prova (que seria realizada em um ano, acho). Não preciso dizer que a minha indignação em relação a essa política educacional (?) aumentou ainda mais.

 Eu fui forçada a fazer uma prova, na qual eu não concordava com os objetivos, métodos e fins,  meu diploma de conclusão de curso estava atrelado a ela e eu não fui convocada a tempo. Quando fui finalmente fazer a prova, entrei, colei o adesivo do boicote e saí. Para a minha surpresa, queriam me impedir de sair da sala. Alegavam que o edital só permitia a saída dos alunos após 1 hora de realização de prova e que eu seria desclassificada. Eu, com toda a minha paciência cívica, expliquei os motivos pelos quais não fiz a prova e pedi, gentilmente, que me deixassem voltar para casa (longe dali umas 2 horas).

Afinal, por que boicotei o ENADE?
O ENADE é uma avaliação das Universidades que substituiu o PROVÃO (do então ministro neoliberal da Educação, Paulo Renato). O ENADE ranqueia as instituições de ensino, resultando em incentivos as universidades que vão bem (e não as que vão mal e possivelmente precisam de algum tipo de mudança), desconsiderando a realidade de cada instituições e as suas questões reais.

Se pensarmos bem, o que essas avaliações fizeram nos últimos anos para melhorar o ensino superior? Por que não construir uma avaliação de verdade, a partir da participação efetiva das universidades, com a exposição real das suas questões? Por que não discutir abertamente as políticas voltadas para o ensino superior, como o REUNI? Fazíamos isso, via movimento estudantil, diariamente.

 Discussão semelhante pode ser feita para as avaliações externas do ensino médio. O SAERJ, prova aplicada pela Secretaria Estadual de Educação, serve não só para diagnosticar a situação do ensino, já amplamente divulgado como precário, mas faz parte também do Plano de Metas, que tem como eixo principal a meritocracia,  usando os resultados para punir ou premiar professores, estabelecendo SALÁRIOS DIFERENTES entre os eles. E desde quando isso é uma política séria de melhoria da educação?

Não sou contra avaliações. Questiono sempre seus objetivos. Desconfio todas as vezes que elas são concebidas e implementadas de formas centralizadas, sem consulta aos que estão nas unidades de ensino. Não vi, nos últimos  anos, apesar de todas as avaliações, muitos paços em direção a melhoras significativas no ensino superior, nem no médio. Pelo contrário, a situação de precarização do trabalho e das condições em geral se deterioram.

Perdemos tempo com tudo isso. Uma avaliação séria deve ser feita para o ensino em geral, em todos os seus níveis,  visando não só a  universalização, mas a qualidade. Para isso, precisamos de mais investimento (10% do PIB para Educação Já) e dar mais autonomia as redes de ensino, para que elas possam mostrar e debater as reais dificuldades que enfrentam. E não o inverso.

Estamos longe disso.

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