10 da manhã, centro da cidade do Rio de Janeiro. Auditório lentamente enche até ficar lotado. Lá fora, uns 40 graus, céu azul.
Infelizmente, contribuo pouco para o movimento sindical dos professores. Acompanho as deliberações, leio boletins, discuto com professores, alunos e diretores as questões do momento, mas vou poucos nas assembléias e atos. Só quando acontecem aos sábados. Mas é durante a semana que o bicho pega, claro, assim chama mais atenção da população, mas os horários são incompatíveis para um professor do Estado. Contraditório? Claro. Os professores, como todos devem saber, cumprem horários em diferentes escolas.
Claro que tenho minhas queixas em relação ao sindicato, mas elas são pequenas perto do trabalho que eles realizam. Se eu queria que eles fizessem mais? Certamente. Assim como eu gostaria de me dar mais. É o que dá. E com o que dá, eles fazem um trabalho digno. Essa assembléia foi uma das mais interessantes que eu já freqüentei. Pela primeira vez vi a direção central do sindicato e os participantes da assembleia argumentando para além dos chavões políticos da luta entre capital x trabalho. Esse discurso é ótimo e necessário, mas jamais avançaremos somente com ele. E têm as brigas internas chatérrimas, as divisões partidárias, as discussões infundadas que afastam o professor e outras parcelas da sociedade da discussão sindical. As vezes cai num jogo perigoso e egocêntrico, como muitos outros movimentos políticos, onde as pessoas estão mais preocupadas com a retórica e o convencimento do público do que com as próprias propostas e suas reais transformações na sociedade. Hoje vi argumentos claros e convincentes sobre a política do governo Sérgio Cabral, em como ele é competente no quesito arrochar o salário do funcionalismo público e nas verbas para a educação e como a secretaria estadual de educação e seu secretario tratam o sindicato. Pelas declarações do novo secretário, já estava mais do que claro que era alguém completamente despreparado para levar um projeto de educação pública de qualidade para frente. Depois de ouvir relatos sobre a reunião dele com a direção do sindicato, isso ficou ainda mais evidente. O problema é que temos um governo com apoio popular, que ganhou no primeiro turno com ampla maioria. Apontar suas contradições e dialogar com a sociedade é fundamental. Há uma política clara de desvalorização da educação pública. Será que os filhos do Cabral estudam em escolas estaduais?
Vi as deliberações da assembleia agora.http://www.seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=1685
Nada alem do esperado. Paralisação, reajuste, e fórum de luta em defesa da universidade pública. O que chama atenção é ainda o dirigismo das direções. Como não temos uma estrutura política democrática, na sociedade como um todo, os movimentos políticos tendem a ser centralizadores. Isso ficou muito claro na assemblia de hoje. A direção central fazendo de tudo para que cada detalhe da assembleia não fugisse do controle, que sempre tivesse alguém para fazer alguma intervenção dentre as falas do público, professores e funcionários, presente. As resoluções refletem o controle da direção central sobre a assembleia. E reflete o nosso despreparo político. Ao menos temos direções minimamente sensatas e na luta. Falta perna, falta gente. São muitos os motivos. Um deles passa pela própria estrutura do sindicato e pela dificuldade de organização da sociedade.
O Egito foi lembrado algumas vezes. Pela primeira vez achei que não era retórica. Pensei e me emocionei com a possibilidade de uma ampla mobilização popular. Mas mobilização que não pode parar depois de algumas manifestações, tem que fazer parte do cotidiano das pessoas. E disso estamos longe. E por isso movimento sindical fraco. E por isso o pouco que acontece emociona.
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