domingo, 13 de março de 2011

Quarta-feira sempre desce o pano.

Hoje é domingo. Demorou para descer.
Agora é voltar a vida real, ver o que aconteceu nesses dias de fantasia. Dilma, Reforma Política, Efeito Dominó no Oriente Médio, Dia das Mulheres, tsunami no Japão, aumento das passagens de ônibus e coisa e tal. Arrumar a casa, que virou barracão de Carnaval. Comer alguma coisa decente, trocar a cerveja por suco e deixar que os momentos encontrem seus lugares na memória. Passou.

E o Rio de Janeiro fez seu show. Com pouquíssimo incentivo do governo, mas fez. O povo fez. Os músicos, as letras, os ritmos, os lugares, as fantasias e as pessoas. A gente fez, dando continuidade a festa que já se fazia. Refazendo, relembrando, recriando. Ruas tomadas. Já valeu pelos encontros, pela alegria, pela festa. E por criar o hábito das ruas. Torço para que seja tomada por outros motivos depois, que a gente se acostume tanto com ela, que ela volte a ser usada para outras manifestações. E o carnaval foi marcado por irreverentes inquietações políticas. Teve Bin Laden, placas anti intervenção no Oriente Médio, pelo sexo livre, por mais banheiros no carnaval e outras que nem me lembro mais. Por isso não dá para organizar tanto o Carnaval de rua. Alguns blocos surgem de forma espontânea e, se institucionalizar tudo, fica chato. A prefeitura tem que apoiar a festa e não controlar. Conforto com os banheiros (ponto FRACO do carnaval de rua), segurança, a distribuição de bebidas, alimentos, camisinhas e trânsito. E muito diálogo com os blocos. Nada de repressão, meu caro Paes. Carnaval é criativo e espontâneo. Deixa rolar, até porque seus camaradas estão fazendo muito dinheiro em cima da nossa festa, que esse ano registrou ser o maior Carnaval do Brasil.

Isso nas ruas. Já o Carnaval do sambódromo, vi pouca coisa pela TV. O que sobrava da minha energia do dia eu usava para vegetar na frente da TV até dormir. Enquanto isso, as imagens das escolas simplesmente passavam. Não vi a Mangueira nem a Tijuca, infelizmente. Não que eu torça para elas, sou Villa Rica de coração e tenho um grande carinho pela São Clemente, mas a homenagem a Nelson Cavaquinho deve ter sido imperdível, e a Tijuca sempre tem alguma novidade interessante, que foge dos padrões batidos dos desfiles. 
Vi um pouco da São Clemente e amei ver a bateria com mulheres, principalmente no surdo. Meu carinho pela São Clemente tem muito a ver com a bateria, aprendi muito de samba com eles. O desfile do Salgueiro realmente me irritou. Já não sou muito fã da escola, sempre achei eles mais preocupados com os globais do que com o povo que faz o Carnaval, mas deve ser encrenca minha, mas vestir a bateria de BOPE foi o cúmulo. Fiquei incomodada com aquilo.

E não concordo com as interpretações que fazem do Tropa de Elite, principalmente do II, sobre o papel do BOPE e a necessidade de um herói. Acho que quem viu o filme assim, perdeu a grande essência da coisa que foi criticar o sistema de relações entre o crime e o poder institucionalizado, sendo que o BOPE é um dos pilares, junto com a Secretaria de Segurança Pública do braço organizado. Está aí a Operação Guilhotina para dar continuidade a esse debate. Ou seja, era um enredo sobre cinema, o Tropa de Elite foi um filmão, abriu um debate necessário na nossa sociedade, mas homenagear o BOPE dessa forma é perder o fio da meada.

Agora é voltar a vida. Sair na rua sem fantasias, sem cantarolar alto e com coro todas as marchinhas e sambas maravilhosos da nossa Terra, sem interagir com todos no trajeto da casa para onde quer que se esteja indo, num sem destino constante, sem acordar e misturar o leite com a danada, e por aí vai. Preparar para entrar na cova com os leões e esperar o próximo evento de povo na rua. Espero que esse não seja o único do ano. Quarta-feira sempre desce o pano...


 

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