sábado, 13 de agosto de 2011

A greve acabou, mas a luta continua.


Estou desde ontem, dia da assembleia que votou o término da greve, refletindo sobre essa frase, principalmente a parte “ a greve acabou”. Vamos a ela. 

A assembleia estava um pouco mais vazia do que as últimas, sim, é verdade. As pessoas estão cansadas. Também é verdade. Os alunos estão sem aulas, também. Foi melhor do que a passividade, claro. Conseguimos reajustes para animadores culturais, aposentados e funcionários, com certeza. Podemos voltar a fazer greve em fevereiro, podemos. 

Mas o que não foi considerado ao sair da greve agora, em primeiro lugar, é que houve uma clara polarização na assembléia quando foi realizada a votação para a continuidade ou não da greve. POLARIZAÇÃO CLARA, eu repito. Ou seja, muita gente ainda achava necessário e estava com disposição de continuar. A direção central do sindicato e outros profissionais da educação acharam que seria melhor interromper a greve.  Continuar por que, eles perguntavam? 

Continuar porque se olharmos para os ganhos políticos, eles não foram muitos. Ganhamos visibilidade (considero o acampamento um marco para isso, desgastamos o governo vergonhoso de Sérgio Cabral e, principalmente, nos fortalecemos internamente, já que a greve cria tempo e espaços de reflexão, diálogo e ação), mas perdemos a votação.  O que significa que ganhamos muito abaixo das nossas reivindicações, que são mais do que justas. Não estamos negociando 26% sobre um salário de 10 mil, mas 26% de míseros 760 reais. Não vou repetir o absurdo de que isso é igual (ou menor?) do que o salário de um gari, pois acredito que TODOS os trabalhadores devem receber salários dignos para a sua sobrevivência, e que não deve haver diferenças gritantes entre os salários, pois essa é a base da divisão de classes nas sociedades (essa é uma outra discussão). Entramos na greve com reivindicações que mobilizaram milhares de professores pelo estado. Viramos as costas para isso sem ter conseguido quase nada. 

Segundo, vivemos uma crise mundial desde 2008. Uma forma óbvia de garantir os lucros da elite econômica é segurando os salários e os forçando para baixo. A economia brasileira continua crescendo, a do Rio de Janeiro também. A inflação suga nossos salários, assim como as altas taxas de juros e a especulação sobre os preços de serviços e produtos, principalmente o imobiliário. Isso vai continuar. Não precisa ser nenhum gênio para enxergar essa situação. É assim que sistemas capitalistas reagem. Tem acontecido em várias partes do mundo. Aqui, com uma elite despreocupada com transformações sociais, não será diferente. A educação definitivamente não é uma prioridade para esse governo.

Terceiro, aceitar sair da greve um dia após a  vergonhosa votação  na ALERJ (ver nota abaixo) passa uma mensagem de que vamos aceitar o pouco que vier, do tipo “o que vier é lucro”. Não, não foi para isso que parei. Parei para mostrar que a situação dos profissionais da educação está insustentável na sua exploração. Professores exaustos, pulando de escola em escola, abrindo mão do seu tempo livre para exercer a sua profissão e levar uma vida digna. Enquanto isso, vemos contratos milionários com empresas sendo realizados a toque de caixa para garantir uma fatia do bolo da nossa receita para os grandes empresários. Estamos em época de Copa e Olimpíadas, de muitas obras, de muitos crimes, de mais arrocho. Arrocho que vai continuar. E nós concordamos com ele. Saímos da greve aceitando uma migalha. Acumulamos perdas salariais de mais de 60% nos últimos anos. Erramos ao reivindicar 26% e nos afundamos aceitando 5%. É uma tentativa clara de acabar com a educação pública de qualidade. De enfraquecer ainda mais a educação que chega às classes trabalhadoras. Nosso papel enquanto educador é não só mostrar isso, mas atuar de forma a transformar essa realidade.

A luta continua. Claro. Só a luta de classes vai trazer alguma melhora para a classe trabalhadora. Ou você acha que ela vai cair do céu?
Parabéns aos que lutaram. A luta já é uma vitória. 

Nota do Blog pó de giz e relacao dos deputados estaduais que votaram contra as propostas da educação   
Alerj aprovou antecipação de duas parcelas do Nova Escola e reajuste de 5%

Os deputados acabam de aprovar o Projeto de Lei 677/2011, que altera a mensagem 34 enviada pelo governo Cabral para votação no plenário da Alerj. No Projeto que acaba de ser aprovado, com as emendas feitas na mensagem enviada pelo governador, a rede estadual terá antecipadas duas parcelas do Nova Escola, referentes aos anos de 2012 e 2013, além de um reajuste salarial de 5% (este reajuste também foi aprovado para a Faetc em outro projeto, o nº 679). As emendas do Sepe de reajuste salarial de 26% e de incorporação total do Nova Escola foram reprovadas.

Os funcionários tiveram os seguintes ganhos na mesma mensagem: foram aprovadas a incorporação total do Nova Escola, o descongelamento do Plano de Carreira específico e 8% entre os níveis – as emendas do Sepe que estipulam 30 horas para os funcionários e o enquadramento por formação não passaram.

Os animadores culturais tiveram seus vencimentos reajustados também em 5%, além de receberem as antecipações do Nova Escola.


 VALEU
 "REPRESENTANTES DO POVO"!

Votaram “NÃO” os Senhores Deputados:

Alessandro Calazans,
 Alexandre Correa,
 André Ceciliano,
André Correa,
André Lazoroni,
Andréia Busatto,
Átila Nunes,
Bebeto,
Bernardo Rossi,
Chiquinho da Mangueira,
Coronel Jairo,
Dionísio Lins,
Domingos Brazão,
Edson Albertassi,
Fabio Silva,
Geraldo Moreira,
Graça Matos,
 Graça Pereira,
 Gustavo Tutuca,
Iranildo Campos,
Janio dos Santos Mendes,
 João Peixoto,
Luiz Martins,
Marcus Vinicius,
 Myriam Rios,
Paulo Melo,
Rafael do Gordo,
Rafael Picciani,
Ricardo Abrão,
Roberto Henriques,
Rosângela Gomes,
Samuel Malafaia,
Waguinho
  Xandrinho.

Votaram 52 Senhores Deputados:

34 “NÃO”
8 “SIM”
Abstenção: 0.

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