domingo, 24 de julho de 2011

Escola não é fábrica, aluno não é mercadoria e educação não é negócio

Essas três frases resumem bem parte da realidade da Educação no estado do Rio de Janeiro. Refletir sobre elas pode trazer um melhor entendimento do que tem acontecido hoje nas nossas escolas públicas.

Quando dizemos que a escola não é fábrica, a crítica recai sobre a lógica produtivista por trás das medidas que norteiam a educação, como o atual Plano de Metas do Governo do Estado do Rio de Janeiro, tão criticado pelos profissionais da educação. Para mais informações sobre ele, sugiro a leitura do texto
http://www.uff.br/observatoriojovem/materia/plano-de-metas-da-educa%C3%A7%C3%A3o-do-rio-de-janeiro-do-economicismo-ao-cinismo

Mas vai além. São vários os sentidos dessa frase.

Ela definitivamente não é usada para criticar o ofício do operário em uma fábrica, mas a sua condição de alienação no trabalho devido às condições impostas pela acumulação do capital a partir da extração de mais valia do trabalhador. Ou seja, professores (assim como os operários) são submetidos a longas jornadas de trabalho, que podem ser repetitivas, devido a quantidade de alunos e turmas (imaginem corrigir provas/ trabalhos/ avaliações de 400 alunos por bimestre e ao mesmo tempo preparar aula e dar aula em diversas escolas?) e, pela falta de tempo, dissociam o trabalho cotidiano de uma reflexão sobre sua prática para garantir sua sobrevivência. Sua hora-aula é baixíssima. Isso garante menos investimento em educação por parte dos governos, e mais gastos em obras desnecessárias, por exemplo. A lógica da fábrica capitalista é produzir mais por menos. Escola é outra coisa.

ALUNO NÃO É MERCADORIA
Assim, o aluno se torna uma mercadoria (a mercadoria é um produto do trabalho) e não é visto como gente, que tem, no seu processo de formação, necessidades e especificidades diferentes da produção de uma televisão, geladeira ou cadeira. Ele é visto como um número, uma meta.

Para a secretaria de educação, a preocupação são os números, principalmente os índices que medem a qualidade da educação, como o IDEB. Assim, todas as tentativas de mudança do sistema educacional são em vão, pois desconsideram as opiniões e reinvidicações dos profissionais de educação. Educação de qualidade para todos não faz parte dos Planos desse governo, principalmente porque um plano para dar certo, tem que ser construído coletivamente. E não é isso que vem acontecendo.
Ou seja, o fetichismo da mercadoria de Marx, que corresponde a tentarmos ir além da aparência do momento da troca de mercadorias, e passarmos para o processo da sua produção para entender o que há por trás da mercadoria, pode ser um paralelo para refletir sobre o fetichismo das notas.

Atualmente, o governo tenta culpar professores pelas baixas notas dos alunos. Seu plano é o de incentivar o “bom professor”, dando a ele um salário diferenciado (como já acontecia com o Nova Escola), estabelecendo metas por escola. Para quem lida diretamente nas escolas, fica mais do que claro que a educação não vai mal por causa dos professores, mas sim, pelas as condições em que esses profissionais trabalham.

PROFESSOR TAMBÉM NÃO É MERCADORIA
O professor, que tem sua força de trabalho vendida, como todos os outros trabalhadores, tem sido duramente penalizado nos últimos anos. O valor da sua força de trabalho é determinado, como o de qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário a sua reprodução e, para manter-se, precisa de certa soma de meios de subsistência (já dizia o bom e velho Marx). Ou seja, se Rio de Janeiro tem aparecido na mídia local e internacional como uma das cidades mais caras do mundo para se viver, isso significa que a soma dos meios de subsistência aumentou! Tem ficado mais cara a reprodução do trabalhador nessa cidade. Soma-se a isso, o crescimento da economia local, o que mostra que os salários devem e podem aumentar, uma vez que há verba para isso. Falta um plano sério para a Educação, que passa também pela valorização dos seus profissionais.

EDUCAÇÃO NÃO É NEGÓCIO
Não é algo que deve ser produzido pensando em fazer lucro, na produtividade, na concorrência e eficiência. Não deve ser pensada apenas através da lógica do custo- benefício, mas sim, na emancipação. Deve fazer parte de um projeto de nação que priorize a vida, a cooperação, o coletivo e a superação das nossas violentas desigualdades sociais. Acima de tudo, educação é um direito.

Infelizmente, o Estado está tomado pela lógica dos negócios. Enquanto for assim, é luta de classes, não tem jeito. E a greve é um dos instrumentos legítimos dessa luta. Estamos nela e vamos até o fim.

Pela valorização dos profissionais da educação e por transformações significativas na nossa condição atual.

Um projeto de nação mais justa passa pela valorização da educação.

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