sábado, 2 de abril de 2011

Na Ilha

Na Ilha as pessoas iam e vinham.
Ficavam e depois desapareciam no mar. Antes de partir, aproveitavam todos, cada um a sua maneira, os encantos e desencantos daquele lugar. E assim foi.
Fantasias momentâneas, expectativas, esperanças, reconhecimentos. Toques. Trocas.
Depois era o adeus.
Até o próximo alguém encontrar a Ilha. Descansar, abastecer, encantar e transformar.

Os moradores, ilhados, sonhavam com o que poderia ter para além daquelas terras.
Os viajantes, experientes, queriam fazer mais estórias por lá.

Na Ilha havia muito o que fazer. As vezes passava o dia inteiro trabalhando. E assim o tempo passava.
Depois se divertia com a chegada dos que um dia partiriam. No início, aquilo incomodava um pouco, depois se acostumou. Aproveitava a presença, os momentos, as falas. Sabia que depois ia sentir falta, mas não deixava  isso atrapalhar a sua vontade de vivenciar o dia. Dia após dia.

Com o passar dos anos, aprendeu a ficar só e a conviver com a falta daqueles que partiam, mesmo que, quando a partida realmente acontecia, parecia que era um pedaço seu que ia.
Adorava escutar as estórias dos outros lugares. As vezes perguntavam-lhe se não queria ir embora também. Partir. Ver o que poderia ter de novo e diferente para além daquele oceano que o separava do resto do mundo.
Sair do seu ritmo cotidiano. Fazer coisas novas. Quem sabe aprender a contar estórias tão bem como as dos viajantes.
Mas como viveria longe dali?

Entendeu, depois de um tempo, que cada um vive com as condições que tem. As dele, simples, repetitivas, constantes. Mas sempre surpreendentes.

As vezes se assustava com os olhares de quem vinha. Brilhavam com poder. Uma forma diferente de olhar. Era o poder da condição. Da condição do contar, do ter, do falar, do fazer, de conquistar.
Com o passar do tempo, aprendeu a ouvir e a não se abalar pelo falso poder de quem tem a condição.
Com o passar do tempo, aprendeu a diferenciar.  Entendeu metáforas, sinais e a ler entre as linhas.

Quando o mar se revoltava, ninguém de fora aparecia. Com o passar do tempo, aprendeu a controlar o constante desejo do novo.
Aproveitava os momentos de solidão. Deixava-se levar por quem sempre esteve por perto. E gostava.
Com o passar do tempo, percebeu que era mais tranquilo só.
Mesmo assim, vivia rodeado de gente.  E gostava.
Com o passar do tempo, criou nós. Percebeu as diferenças entre as pessoas, aprendeu a respeitar, a questionar e a perder.
 Com o passar do tempo, parou de esperar. Simplesmente vivia, um dia após o outro. Com o passar do tempo, se acalmava e se revoltava como o mar.

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