terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O estranho está no ar

Humm.. algo estranho no ar. Fico cabrera quando alguns temas aparecem muito na Rede Globo e seu PIG.
 
Inflação é um deles. Hoje foi isso a manhã inteira. No rádio, na TV, na internet. Agora na CBN "o governo deve assumir compromisso com a estabilidade de preços..."
Voltei do Hortifruti agora! Estava TUDO acima do preço. Não comprei nadinha. Vou esperar para dar uma passada na feira amanhã (adoro essa vida de férias!). Vamos ver como estarão os preços. E todo início de ano é assim. A chuva é geralmente a culpada pelo aumento do preço. Na minha cabeça, essa coisa de meta de inflação não bate. Por que não coloca inflação ZERO!? A partir de agora, não haverá mais aumento de preço! Qualquer aumento será inconstitucional!! Hãn? Eu e minhas visões socialistas...
Mas, pelo que eu vejo-sinto-reflito- cosmicamente, meta de inflação é uma forma de dar lucro para as empresas. Ou não? Primeiro, a meta de inflação é estabelecida. Segundo, seu salário será reajustado (nem todos, como no caso dos professores do Estado do RJ) e terceiro, as empresas fazem seus reajustes. Alimentos, planos de saúde, concessões do Estado (como os transportes), impostos e etc. Todos sobem. Qual segue realmente a meta da inflação? E se seguem todos a meta, por que não deixar como estava? Continuo esbravejando contra os aumentos. O que tento fazer é boicotar produtos muito acima do preço.

Outra pérola do dia: a questão da escolha dos diretores das escolas públicas. Isso é sério, muito sério. Um debate que vai além da própria questão da escolha de direção. Tem a ver com o uso da máquina pública para interesses privados. Qualquer um que conheça minimamente de perto o serviço público, sabe como ele é usado para diversos fins que não os de prestar um serviço público. Época de eleição então, é um horror! Agora, que os cargos são distribuídos para garantir um curral eleitoral, assim como para fazer com que as determinações de determinadas secretarias sejam cumpridas sem, ou com menos resistência, isso é fato. Infelizmente, isso já é até naturalizado pela sociedade. Eis que a pérola do Secretário  “Risoli” (vulgo Coxinha) do nosso querido Cabralnóquio diz que os diretores serão agora selecionados via prova. Oi? Vossa Excelência já ouviu falar em eleição para diretoria? E que essa pessoa cumpra requisitos básicos, como ser concursado e ser da área de educação? E o pior ainda estava por vir (e eu achando que já tinha lido merda suficiente), no tal plano para melhorar a educação do estado, está dar bônus para os professores. Ammm.. alguém me explica essa parte? Não sei se a dupla Risolinho (Coxinha)- Cabralnóquio se lembra do Nova Esmola, ops, Nova Escola (que eu por sinal, jamais ganhei). Não funcionou. Por que é tão difícil dar a porra do aumento? Por aí a gente vê para que esses aí vieram...

E para finalizar, um depoimento íntimo. Flertei com a TV hoje. Estava eu comendo minha gororoba de ontem, assistindo jornal, quando passa uma reportagem sobre os impostos. Pensei: “ lá vem o PIG falar em imposto de novo” e logo em seguida aparece o tal impostômetro que fica em São Paulo, colocado pela associação comercial (acho). Para minha surpresa, o entrevistado (que eu não lembro quem eu era) faz uma declaração compeltamente fora do esperado. Diz que a arrecadação está alta e que a tendência é de aumento, uma vez que se espera que a economia brasileira continue crescendo e, para ele, o que deve acontecer é uma diminuição do pagamento dos impostos por quem? Pasmem, ele não diz pelo setor produtivo, mas sim pelas camadas mais pobres da população. Flertei com a TV Maldita hoje.
O estranho continua no ar...

2 comentários:

  1. "Julia Assis pediu a opinião de um economista..."

    Bom, sobre inflação, não sei nem por onde começar. A literatura é vasta e as paixões efervescem (sim, economistas também sentem).

    Inflação zero = congelamento de preços. Já foi aplicado no Brasil e em outros países, e seus resultados são geralmente próximos à catástrofe. Controle de preços é algo mais realista, é típico de economias planificadas e de guerra (como EUA, na 2a Guerra). Porém, sua aplicação 'ceteris paribus' é perigosa; seria preciso uma mudança institucional mais complexa, como acontece gradualmente na Venezuela (lá já se pratica controle de certos preços de alimentos, etc).

    Há sempre um certo "controle dos preços", o seu grau é que varia. Um exemplo são as conhecidas e patéticas "Metas de Inflação". Elas partem de vários pressupostos questionáveis, mas destaco dois: o de que (i)todos os preços da economia estão submetidos ao livre mercado, e que (ii)todo aumento de preço é gerado por um aumento na procura por bens e serviços (inflação de demanda).

    (i)Sobre o primeiro, diria que essas ações do BC são inócuas, pois grande parte da economia (aproximadamente metade dela), é formada pelos grandes conglomerados de empresas que não estão submetidos aos mercados. Eles falam muito dele (e o celebram), estão de olho nele, mas definem seus próprios preços de custo, de venda, as quantidades e qualidades.

    (ii)Sobre o segundo pressuposto, destaco outros seis tipos de inflação (de acordo com a escola pós-keynesiana): 1)inflação de
    salários, 2)inflação de lucros, 3)inflação de rendimentos decrescentes, 4)inflação importada, 5)choques inflacionários, 6)inflação de impostos, além da 7)inflação de demanda.

    A perversidade aqui, está em relacionar qualquer aumento nos preços (não importa sua proveniência) ao aumento da renda das famílias (inflação de demanda). Utiliza-se o aumento na taxa de juros como contenção da inflação. O que o PIG não diz é que o método implica em diminuir a renda das famílias para que a procura de bens e serviços caia. Se a inflação é causada pelo aumento da renda das famílias, eles diminuem essa renda e a inflação é "contida" (caso funcionasse). Se a inflação é causada por qualquer outro dos seis motivos citados acima, não importa: eles diminuem a renda das famílias para "conter" a inflação!

    Por que eles fazem isso? São malvados e não gostam de ver nossas rendas aumentando? Na verdade, eles ligam menos pro baixo nível de nossas rendas. Eles ligam para o método como ela é diminuída: através do aumento da taxa de juros. Porque "Eles" são os "players" do mercado financeiro. Para eles, quanto maior a taxa de retorno do seu dinheiro aplicado nos fundos do governo (pagos por nós), melhor!


    Tentei simplificar, mas qualquer frase que escrevi é quase que indefinidamente aprofundável. Não hesite em me questionar.

    Espero ter sido claro, não sei se usei muitos jargões que desnecessariamente tornam a leitura complicada (a grande tática dos 'economistas' para tirar seu dinheiro e te deixar com um sorriso de gratidão no rosto).

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  2. Julia Assis formalmente agradece todos os esclarecimentos desse economista que foi bem claro e informalmente diz que você está lascado!
    Vou querer mais explicações sobre cada frase. Ou faz logo um blog. Ou me manda uns textos. Ou arruma tempo e paciência para responder. São elas:
    1-As metas de inflação ainda não são claras. Meu salário sempre perde. Ou seja, sempre ganho menos porque produtos e mercadorias sobem mais do que ele em média. Perda oficial do poder de compra do trabalhador através de metas de inflação e transferência de renda para os capitalistas donos dos meios de produção (sei lá como denominar isso hoje)?
    2-Renda das famílias diminui somente pelo aumento da taxa de juros (forma de controle da inflação no Brasil)? Consigo entender como esse aumento gera mais renda para o capital especulativo e como controla a demanda,mas não a relação com a renda das famílias (e as que não usam crédito?)

    Basicamente, a inflação, hoje em dia, é contida com o aumento na taxa de juros para que as famílias comprem menos e os investidores ganhem mais. Não pode ser tão simples assim. Ainda acho que são malvados (rsrs) e que meu dinheiro voa para o bolso Deles.

    Por que o controle inflacionário não funcionava antes, mesmo com taxas de juros elevadíssimas?

    3-Controle de preço. Passamos agora por um processo de valorização imobiliária. Esse mercado definitivamente não segue as metas de inflação, mas o da oferta e demanda. O controle do preço desses produtos (no caso, moradia) poderia ser feito por meio institucional, para garantir que moradia não vire uma mercadoria como outra qualquer, por exemplo? É isso que vem acontecendo na Venezuela, no caso dos alimentos? Como definir o que pode e o que não pode subir?

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